I
... se me ponho prá qui a explicar, e a contextualizar,
ou à espera de escrever um artigo astro-lógico comme il faut,
com pés e cabeça, princípio meio e fim, contextos parágrafos e masturbações
mentais tintim por tintim
com as necessárias, imbricadas e inextricáveis correlações
entre símbolos, visões, imagens, ideais, ideias, possibilidades, palavras e
coisas - entre si e umas com as outras (é só combinar a gosto, que já estamos
em Setembro)
para destacar – inevitavelmente – os trânsitos actuais e os
eclipses recentes (7 e de 21 de Agosto) e próximos (31 de Janeiro e 15 de
Fevereiro, 27 de Julho e 11 de Agosto de 2018), todos eles no eixo Leão-Aquário
e como se podem – senão nem vale a pena perder tempo com
isto - entre outras possibilidades, propostas, propósitos e visões traduzir,
entender, pensar ou inventar “significados” para o que se cartografa nos céus
no presente, passado recente e no futuro imediato
(como se não fosse, isto tudo, inventado)
– e até, como se reflectem, aplicam, ou dimensionam à vida
de cada Um, consoante algumas das traves-mestras da sua astrologia particular, todas
estas mensagens siderais, ou melhor: o que nós próprios, humanos, inventamos, concluímos,
atribuímos, e projectamos às danças dos céus, e de resto: a tudo o que vemos (e
depois, inevitavelmente, confirmamos)
... se me ponho agora, dizia, a explicar e a contextualizar,
ou à espera de ter uma artiga carta escrita para ti cara bonita, no livro das
caras ou no bla-bla-blogue, ou de escrever um artigo decente para enviar na newsletter,
etcetter,
passa-se mais outro mês – se calhar – e a oportunidade
d’isto, agoramesmo; porque como dizia Séneca, e já antes deles Hipócrates, a
oportunidade é passageira, o julgamento difícil, a experiência enganosa.
De modes que, sem perder mais tempo, aqui ficam – sem
teorias nem grandes enquadramentos
algumas considerações sobre os tempos que vivemos,
As propostas que nos fazemos e nos fazem os céus, ou o
espírito dos tempos,
As mentiras com que nos enganamos e as verdades com que nos
libertaremos
E acima de tudo as coisas de que mais precisamos
Mesmo quando não temos consciência do quanto as queremos.
II
First things first: desde Maio deste ano, 2017, e até final
de 2018, os Nódulos da Lua estão e estarão a atravessar o chamado eixo da
Individuação e da Participação Colectiva (Nódulo Norte em Leão, Nódulo Sul em
Aquário).
Somos todos chamados a reinventar-nos, a assumirmos e a
criarmos (sim, a criarmos) uma Nova Identidade. Não só para nos actualizarmos e
cumprirmos, mas também para nos reintegrarmos e contribuirmos.
Esta “Nova Identidade” estará, no essencial e do ponto de
vista astrológico, intimamente ligada com a natureza do Sol de cada um
(astrologicamente: Signo, Casa, Aspectos, etc.) e os posicionamentos ligados a
Leão; e, espiritualmente, com o nível da consciência individual, ou seja, com a
capacidade relativa de Ser, Reconhecer, e Expressar Amor a níveis cada vez mais
inclusivos e (palavra carregada:) “incondicional”.
Somos todos chamados a ser expressões mais integradas e
conscientes do que “Leão” significa na vida. E tudo o que possa ser dito sobre
isso, estará aquém disso. É como o Tao, sobre o qual nada pode ser dito. Se é o
Tao, não pode ser dito. Se pode ser dito, não é o Tao.
Mas podemos dizer algumas coisas, como quem esgravata as
camadas mais superficiais e exteriores de uma parede e se põe a querer explicá-la
(à parede) pela cal que lhe fica nas unhas.
Integrar Leão implica integrar a energia do Pai, do
Espírito, do Sol, do Coração, da Irradiação, do Brilho, do Orgulho, e da (auto)Consciência.
Implica ser um centro irradiador, calorífero, e luminoso. Implica expressar,
mas mais do que isso ser, Amor. Luz. Consciência. Uma unidade integrada,
potente, e irradiadora de Vida.
Isto implica, exige, e propõe não só estar em contacto com o Centro respectivo, como aumentar o contacto (intensidade e
frequência) com esse Centro, como – no mínimo, para que o milagre se possa
cumprir – descobrir esse Centro. Isto
significa que, aconteça o que acontecer nas nossas vidas, em última análise, destina-se
a permitir-nos cumprir esse desígnio, propósito, e destino.
No nosso eco-sistema solar, o Sol é o centro deste sistema
particular.
No nosso eco-sistema humano, o Coração é o centro de cada
sistema (indivíduo) particular.
Mas grande parte da humanidade ainda não despertou para esse
centro, e vive preso dentro da cegueira instintiva do umbigo – literal e
metaforicamente falando – e, de certa maneira, num mundo interior relativamente
aprisionado à que chamaríamos de “inconsciência lunar”; pois se não há centro,
não há Sol; se não há Sol não há luz própria, e aquele/a que não vive e brilha
irradiando a partir do seu próprio centro e com a sua própria luz está
lunarizado, dependente, alienado, infantilizado: tem que orbitar em volta de
qualquer coisa, e permanece o seu Sol quase apagado, a brilhar no fundo das
águas; e da mesma maneira que a Lua precisa de mundo para se (pre)encher,
empanturrando-se sem nunca se saciar, numa perpetuação de dependências e
manutenção das incompletudes, o Mundo precisa de Sois que irradiem, o iluminem,
e o enri(a)queçam.
O Mundo precisa que cada um de nós, à sua própria escala,
brilhe mais e mais, como um Sol, a partir do seu próprio centro, e em todas as
direcções em simultâneo: passado, presente, futuro, “cima”, “baixo”, “atrás”,
“à frente”, dentro, fora,...
É que o Sol, quando (re)nasce, é para Tudo.
E com os Nódulos a apontarem um percurso (colectivo, e
percorrido por cada um) que toma Aquário como ponto de referência, ou partida,
e Leão como direcção a seguir (direcção, não destino), é evidente que estamos
todos, cada um à sua maneira, a sermos convocados para nos reinventarmos como
mais autênticos, mais amorosos, mais conscientes, mais centrados e em contacto
com esse Centro, mais irradiantes, generosos, enfim: mais “divinos”. Ou
conscientes. Mais fiéis ao que de mais grandioso pode existir no Centro de cada
um de nós. Leão é a criança divina, filha de Deus, ou dito de outro modo, é Deus
expressando-se através de cada uma das suas crianças, criações, e criamónias.
E quando Deus, que é Amor (e símbolo do ser humano
completamente realizado) quer cumprir-se, não há que estar com cerimónias – a
não ser a cerimónia de nos tornarmos como Ele, que é como quem diz, como Nós, e
fazermos disso a (nossa) Vida. Em Deus projectamos – somos nós - os nossos
ideais, aspirações, conceitos de eternidade, bem, potência, magnanimidade,
compaixão, poder, enfim: tudo é, tudo sabe, tudo vê, e está em toda a parte
– e ainda assim, miseravelmente, milhões de seres humanos
continuam em romarias semanais, diárias, contínuas, insistentes (e inúteis) a
igrejas, a estádios e outras catedrais de consumo, a redes sociais, a mesas do
café e academias, a corporações, a televisões e écrans, a cursos de astrologia,
a curas milagrosas, ao folclore da nova-era-era, a livros, a gurus, a feiras, a
médicos, a mestres, ao banco, à lua, a marte,
a ver se o encontram.
Diz Kabir:
“Eu me rio quando ouço
que o peixe tem sede dentro da água. E tu não compreeendes que o que há de mais
vivo está no interior da tua própria casa; e por isso andas de cidade sagrada
em cidade sagrada, com um olhar confuso. Kabir te dirá a verdade: vai onde
quiseres, a Calcutá ou ao Tibete; se não conseguires descobrir onde tua alma se
esconde, para ti o mundo nunca será real”.
Então o Nódulo Norte em Leão (entre Maio 2017 e final de
2018), é um convite renovado a tornarmo-nos, assumirmo-nos e cumprirmo-nos, mais
e mais, como o Deus que (já) somos e que estamos aqui para actualizar,
idealmente a cada passo, a cada respiração, a cada escolha, a cada gesto, a
cada momento – nem interessa tanto isso do onde ou quando, pois alma que é alma
é-o a todo o momento, é só na ilusão e nas preferências separativas do ego que
existe (ora, ora) melhor espaço, melhor tempo, do que Agora.
O Nódulo Norte em Leão é pois símbolo da tarefa de fazer
mais ouro; desenterrando-o, tirando-o de dentro, de cima, dos lados, sabe deus:
ou dedicando-nos à grande obra alquímica da transformação do chumbo que ainda
arrastamos; mas como é o Nódulo Norte e Leão, preferimos concentrar-nos na imagem
gloriosa que coroa (como a de louros, não sem os seus espinhos) o sucesso do
trabalho alquímico: o ouro, símbolo da perfeição e incorruptibilidade do
Espírito, a brilhar.
E distribuir generosamente o filão.
A chatice é que não podemos dar o que não temos,
E não podemos ter o que não fizermos, não podemos ser o que não
fizermos de nós.
Temos de começar por aprender a ser saudavelmente egoístas e
pôr, nem que temporaria e estrategicamente, o nosso próprio coração em primeiro
lugar: o Coração como centro.
Não os caprichos, não os desejos, não as estratégias, não as
feridas, não as máscaras, não as performances, não as mentiras: mas a verdade
que se encontra no Centro. Qual verdade? Qual centro?
É isso mesmo que somos desafiados a descobrir.
III
São tempos de Nódulo Norte em Leão. Estamos todos a aprender
a ser ainda mais humanos. Ou divinos, o que vem a ser, afinal e absolutamente,
a mesma coisa. Reapropriarmo-nos dos atributos mais “positivos” em que o nosso
coração acredita, e de todos os possíveis, aqueles que nos são próprios,
naturais, espontâneos, e possíveis: e depois, inundar o (nosso) mundo com a
nossa própria luz. Com uma condição: é necessário começar por nós próprios,
para podermos – realmente podermos – vir a desembocar realmente nos outros.
Repito, porque alguns de nós aqui conhecem o simbolismo
astrológico e o seu próprio Mapa (mapa de estradas, mapa do caminho, ou mapa de
encruzilhadas?), este processo só poderá ser minimamente cartografado e
entendido, no que respeita a cada um, através da complexa malha energética resultante
do Sol por Signo, Casa e Aspectos no mapa individual, por tudo quanto se refira
ao signo de Leão no nosso próprio Mapa e na nossa própria vida, e consoante o
nível de consciência em que cada um vive, contacta e expressa as energias
divinas da Vida.
Explicar isto mais detalhadamente transcende o objectivo
deste texto, que pretende ser apenas um apontamento sobre o que estamos todos,
cada um à sua maneira, a viver por estes tempos - ou melhor: um apontamento
sobre aquilo que eu creio que estamos todos, cada um à sua maneira, a viver por
estes tempos. Cada um tem a sua miopia e é com a sua própria cegueira que tem
de viver – e com o Nódulo Norte em Leão temos que nos chegar à frente, sermos
audaciosos e humildes o suficiente para expressarmos com orgulho o que nos vai
dentro. Assumir o que fomos, o que temos sido, o que temos feito, e temos
criado – até agora, claro - e seja como for isso agora não interessa assim
tanto: não tanto, pelo menos, como tudo o que queremos, e aspiramos,
tornar-nos: daqui para a frente. E isso é que interessa, quanto mais não seja, porque
isso, pelo menos, podemos.
IV
E o chumbo, nesta metáfora alquímica em que Coração é ouro e
o ouro Espírito, Alma, divindade?
O chumbo são os medos, a ignorância, e as ideias que nos
mantêm prisioneiros de um lugar dentro de nós chamado “aquém”: aquém de nós
próprios, aquém da nossa verdade, aquém do nosso potencial, aquém de um
saudável senso de orgulho no nosso próprio brilho, ou de consciência da nossa
própria luz e condição.
O chumbo, aqui, são as ideias e ideais que nos aprisionam e escravizam;
o chumbo são os núcleos ao redor dos quais orbitamos – famílias, estatutos,
crenças, indivíduos significativos que “brilham” e sobressaem, são a figura que
se destaca contra o fundo (a um certo nível, Leão significa a figura central
que brilha, e Aquário os que orbitam à sua volta – ou na sua sombra – para se
banharem e beneficiarem da luz emprestada, pagando o preço de nunca desenvolverem
a sua própria).
O chumbo são os medos de assumir responsabilidade integral
pela própria vida.
O chumbo é a tremenda dissociação de nós próprios, que em
algum momento do passado nos permitiu sofrer menos e não ter que lidar com a
própria dor, invasiva, persistente, mas tantas vezes ignorada. Parece que dói
menos se não lhe der atenção. Dói menos, o quê? Dor, qual dor? Eu? Eu nem dói!
Eu não dói. Nem sinto. Na verdade, nada me dói, mas também nada sinto.
É que ao afastar-me da dor, separando-me dela, separo-me
simultaneamente do meu centro, da minha riqueza, da minha verdade, da minha
essência: não porque a dor seja o centro com o qual preciso estar em contacto,
mas porque a caminho do centro a partir do qual preciso viver tenho, invariavel
e inevitavelmente, de atravessar, ser atravessado, permitir, experienciar,
viver – e depois, libertar – essa dor.
“Não se sobe um degrau
na luz sem descer um degrau nas trevas” - nem ninguém se ilumina, como
dizia o Jung, “imaginando figurinhas de
luz”.
É preciso fazer o trabalho. É um trabalho alquímco. E
enquanto estamos encarnados, temos alambique.
As boas notícias são que esse trabalho é inevitável, por
estes dias (meses, anos.. tempos). O que é opcional é o nível de resistência,
preguiça, acomodação, ou prontidão, entusiasmo, e confiança com que nos
dedicamos a ele.
É aqui que entram os eclipses em Leão/Aquário (que acontecem
sempre que uma Lua Cheia ou uma Lua Nova coincidem com a posição dos Nódulos,
por isso, durante o trânsito dos Nódulos
Leão/Aquário os eclipses dão-se nesse eixo),
É aqui que entram os trânsitos mais importantes desta
altura,
É aqui que entra a Consciência humana, o seu poder de
escolha, e a sua responsabilidade.